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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Empreendedorismo, inovação e captação de recursos

Newton M. Campos
newton.campos@faculty.ie.edu

Empreendedorismo tornou-se uma "disciplina" há pouco tempo. Foi apenas com o início da globalização do sistema de mercado e com o advento da internet que o fenômeno começou a ficar evidente como relevante para os processos de inovação social e econômica. Os empreendedores, não como simples fundadores de organizações, mas principalmente como inovadores em ação, vêm, assim, ganhando ares de estrelas da economia mundial. O assunto passou a interessar a pessoas de diversas idades e classes sociais, trazendo o foco do processo para o principal problema enfrentado por potenciais empreendedores: a captação de recursos. Por sua natureza multidisciplinar, o assunto pode ser abordado desde inúmeras óticas, das quais o professor Newton M. Campos (IE Business School e FGV-EAESP) prefere pesquisar aquelas com vieses práticos e aplicáveis em economias emergentes.

THE LEAN STARTUP: How today's entrepreneurs use continuous innovation to create radically successful businesses
Eric Ries. New York: Crown Business, 2011. 336 p.

Deslocando o foco do processo empreendedor para a execução no lugar do planejamento, esta publicação enfraqueceu ainda mais a importância dos planos de negócio para investidores e empreendedores em potencial. Eric Ries, até então um popular blogueiro sobre o assunto, tornou-se autor de um método que, embora nem um pouco científico (seu "Lean" nada tem a ver com o "Lean Manufacturing", por exemplo), trouxe conceitos extremamente interessantes para o mundo real do empreendimento.

BUSINESS MODEL GENERATION: A handbook for visionaries, game changers, and challengers
Alexander Osterwalder e Yves Pigneur. New Jersey: John Wiley & Sons, 2010. 288 p.

Este livro autopublicado é resultado do trabalho coordenado entre o professor Yves Pigneur, o palestrante Alexander Osterwalder e mais de 470 pessoas que colaboraram para desenvolver uma ferramenta de análise de modelos de negócio abrangente e de simples utilização. Desde então, o proposto Painel de Modelo de Negócio (Business Model Canvas) tem sido adotado em larga escala em todo o mundo, substituindo ou complementando os tradicionais planos de negócio.

O EMPREENDEDOR INOVADOR: Faça diferente e conquiste seu espaço no mercado
Soumodip Sarkar. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 304 p.

A maioria dos bons livros sobre empreendedorismo ignora a realidade de muitas economias em desenvolvimento, nas quais normas jurídicas e sociais que promovam a confiança mútua ainda se encontram em seus primórdios. Neste livro, o professor indiano Soumodip Sarkar, radicado em Portugal, utiliza amplos conceitos acadêmicos do empreendedorismo baseado em inovação e em sua experiência com o mercado brasileiro, para apresentar uma perspectiva global, porém adequadamente recortada, sobre o assunto.

EL LIBRO NEGRO DEL EMPRENDEDOR: No digas que nunca te lo advirtieron
Fernando Trías de Bes. Barcelona: Empresa Activa (Ed. Urano) 2007. 192 p.

Este livro aborda o empreendedor de uma ótica diferenciada: ao invés de partir dos empreendedores bem-sucedidos, o professor Fernando Trías de Bes pesquisa os mais de 90% de empreendedores em potencial cujos empreendimentos não chegaram sequer ao quarto ano de vida. O autor desmistifica, assim, o valor da ideia inicial para o êxito de um empreendimento, creditando à automotivação,à flexibilidade e ao improviso o aumento da sua chance de sobrevivência.

THE BUSINESS OF VENTURE CAPITAL: Insights from leading practitioners on the art of raising a fund, deal structuring, value creation, and exit strategies
Mahendra Ramsinghani. New Jersey: John Wiley & Sons, 2011. 432 p.

Com a crescente necessidade de profissionalização do mercado investidor nas economias em desenvolvimento, o livro do professor Mahendra Ramsinghani consegue desmistificar o papel dos fundos de Venture Capital no processo empreendedor, enquanto revela em detalhes o funcionamento desta modalidade de investimento e captação de recursos nos Estados Unidos. O livro mostra-se uma fonte atualizada do que se espera de um projeto para que ele atraia recursos de terceiros.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Mulheres de negóciosMulheres de negócios

Aproveitando que ontem foi comemorado o Dia Internacional da Mulher, é oportuno notar que cada vez mais o empreendedorismo vem sendo considerado como uma opção de carreira consistente para elas. Tal fato foi referendado pelo relatório executivo da Pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor), segundo o qual cerca de 40 milhões de pessoas estão envolvidas com alguma atividade empreendedora. Desse total, 19 milhões são mulheres.

Uma das razões que as levam a abraçar a carreira empreendedora é a flexibilidade, algo ainda difícil no mundo corporativo. Isso não quer dizer que ela irá trabalhar menos, muito pelo contrário. No entanto, o fato de ela poder gerenciar a sua rotina ou instalar sua empresa perto de sua casa ou da escola dos filhos faz diferença.

A mulher ainda se culpa mais por não acompanhar de perto a educação dos filhos e o dia a dia deles. Participar da festa na escola, ter ao menos uma refeição por dia com eles e ajudar na lição de casa são atividades importantes para elas, que acabam se ressentindo caso não as exerçam.

Embora haja várias exceções, as empresas também não colaboram muito: todos nós já ouvimos casos de empresas que "pediram" que suas executivas retornassem ao trabalho antes do término da licença-maternidade.

Há outra questão subjacente ao desenvolvimento da mulher empreendedora. Em geral, quando uma mulher melhora sua renda, parte desse montante é reinvestido em seu entorno, na educação dos filhos ou reforma da casa, beneficiando e gerando empregos na comunidade. Por isso, vários programas sociais têm como foco a mulher, pois assim há uma maior probabilidade de mais pessoas aproveitarem os benefícios alcançados.

Infelizmente, os negócios escolhidos por elas ainda são em setores mais tradicionais e tipicamente femininos, como serviços de beleza ou confecção, que não possuem alta escalabilidade (potencial de crescimento). É uma pena, pois as mulheres possuem algumas características que são muito importantes para o empreendedorismo, tais como intuição, capacidade de formar uma boa rede de contatos, comunicação, entre outras.

tales andreassi

Tales Andreassi é mestre pela Universidade de Sussex e doutor em administração pela USP. É professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-SP, onde ensina empreendedorismo e inovação.

 

FONTE: http://zip.net/bsmPpt

Publicado originalmente em 09/03/2014 01h30

Projeto de WhatsApp

A recente aquisição bilionária do WhatsApp pelo Facebook certamente mexeu com a cabeça de empreendedores do mundo todo. E não é para menos! O caminho para chegar até lá acaba passando por várias instâncias, muito embora haja exceções.

Ao iniciar um negócio de tecnologia de informação é preciso utilizar capital próprio ou dinheiro de amigos e familiares, já que dificilmente um investidor coloca dinheiro em uma ideia que ainda está no papel. Esse montante será gasto principalmente para pagar um programador, que hoje são disputadíssimos. Daí a importância de também aprender a programar, como ensinou Jack Dorsey, fundador do Twitter, quanto esteve no Brasil.

O próximo passo é conseguir fazer um bom networking para vender suas ideias. Ir a uma incubadora, aceleradora ou espaço de coworking pode ajudar a conhecer pessoas, investidores e possibilidades de financiamento público a fundo perdido, que podem ser fontes de recursos importantes nessa segunda etapa do negócio. Quem sabe, até um investidor anjo.

Se a empresa tiver bom potencial, com sorte consegue-se mais investimentos de um fundo de capital de risco, uma empresa que investe dinheiro em troca de participação. A partir daí, começa um processo de crescimento acelerado. Esse apoio tem preço: parte da administração acaba sendo exercida pela empresa de capital de risco, principalmente a parte financeira.

Se após esses investimentos a empresa crescer, a próxima fase é a estratégia de saída. Pode ocorrer via a oferta de ações na bolsa, como fez o Facebook, e que é distante para a maioria dos empreendedores brasileiros.

Ou então uma venda, como fizeram o Instagram e o WhatsApp. Nas aceleradoras de Israel, empreendedores criam negócios já pensando em atender determinados clientes, por exemplo, esse pode interessar ao Google, esse outro ao Facebook...

Seja como for, esses conselhos não adiantam se você não tiver um negócio inovador, que realmente reflita o desejo ou a necessidade das pessoas. Por isso, antes de fazer planos mirabolantes, ponha sua cabeça para funcionar até achar a ideia que irá transformar a sua vida.

tales andreassi

Tales Andreassi é mestre pela Universidade de Sussex e doutor em administração pela USP. É professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-SP, onde ensina empreendedorismo e inovação.

 

FONTE: http://zip.net/bmmNZ6

Publicado originalmente em 23/02/2014 01h22

Aprendendo a delegar

Você já deve ter ouvido empreendedores reclamando de que não têm tempo para nada, que tudo na empresa precisa passar por eles, que os funcionários não têm iniciativa própria e que, se ele não estiver presente em todos os momentos, ninguém trabalha na empresa.

Muitas vezes, esses problemas devem-se mais ao empreendedor que se queixa do que a seus subordinados.

É comum, no início do negócio, os empreendedores serem centralizadores, pois muitas vezes trabalham sozinhos e acabam acumulando as principais atividades da empresa, como as vendas, o controle financeiro, o desenvolvimento de produtos, o atendimento pós-vendas, entre outras funções que deveriam ser compartilhadas.

O problema é que, à medida que a empresa vai crescendo, funcionários são contratados, mas o empreendedor continua agindo da mesma maneira, querendo cuidar de tudo e até mesmo atrapalhando o trabalho dos outros.

Uma grande habilidade que todo empreendedor em negócios iniciantes deveria tentar desenvolver é sua capacidade de delegar.

No entanto, para isso, ele precisa tomar alguns cuidados para não se frustrar mais tarde.

Primeiro, é importante saber recrutar os funcionários que têm o perfil para assumir novas tarefas e desafios e que tenham iniciativa para isso.

Além disso, eles precisam ter potencial para fazer mais do que as funções para as quais foram contratados exige.

Feito isso, o próximo passo é oferecer treinamento e, então, começar a delegar aos poucos as tarefas e acompanhar o desempenho deles.

O processo de "feedback" (dar um retorno aos funcionários) também é importante. E aceitar e compreender os erros não intencionais dos subordinados é fundamental para que a delegação seja bem-sucedida.

Elogiar, recompensar e incentivar progressos também faz parte dessa transição.

Para o dono da empresa, a grande vantagem de delegar funções e tarefas é que o empreendedor poderá utilizar parte do tempo que ele gastava em questões operacionais em atividades que são realmente importantes para a sobrevivência do negócio, como a conquista de novos clientes, buscar métodos para inovar mais e maneiras de pensar a empresa de um modo estratégico.

Tente, você não vai se arrepender e seus funcionários irão lhe agradecer.

tales andreassi

Tales Andreassi é mestre pela Universidade de Sussex e doutor em administração pela USP. É professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-SP, onde ensina empreendedorismo e inovação.

FONTE: http://zip.net/bqmPGJ

Publicado originalmente em 09/02/2014 02h19

Antes do Carnaval

Nada pior para um empreendedor do que aquelas semanas iniciais do ano que antecedem o Carnaval. Tirando os proprietários de negócios relacionados às férias, como turismo, por exemplo, para os demais os meses de janeiro e fevereiro são os piores do calendário em matéria de vendas. O que fazer?

A primeira medida é se planejar, ou seja, sabendo que essa época é sempre um mês fraco, provisionar uma parte das receitas dos meses de maiores vendas para cobrir o resultado negativo do início do ano. Assim você evita aquela corrida de última hora ao banco, que irá te cobrar juros altos, como sempre.

Feito isso, aproveite que você não terá muitos clientes para pensar na reestruturação da sua empresa. Esse é um bom momento para dispensar funcionários pouco eficientes, investir no treinamento daqueles com bom potencial ou incentivar alguns deles a tirar férias.

Outra possibilidade é utilizar esse tempo para pensar em como inovar mais. Visite feiras internacionais, já que, no hemisfério Norte, janeiro e fevereiro não são meses de férias e dezenas de eventos são realizadas todos os anos.

Faça contatos com possíveis parceiros estrangeiros, monte uma boa rede de contatos, pesquise novos fornecedores, converse com alguns clientes sobre o que eles estão achando do seu produto ou serviço, busque sugestões. No início do ano, as pessoas estão mais relaxadas e sempre têm um tempinho para responder uma pesquisa ou jogar conversa fora.

Faça uma reflexão sobre o ano que passou. Levante as coisas que deram certo e as que deram errado e tente entender porque isso aconteceu para evitar que as mesmas falhas se repitam.

Ou então aproveite um pouco a vida e vá fazer uma viagem. Desligue-se da empresa e não caia na tentação de dar uma ligadinha para ver como as coisas estão indo.
Se você tiver bons funcionários, eles irão saber resolver os poucos problemas que aparecem nessa época do ano tão bem quanto você. Boa viagem.

tales andreassi

Tales Andreassi é mestre pela Universidade de Sussex e doutor em administração pela USP. É professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-SP, onde ensina empreendedorismo e inovação.

 

FONTES: http://zip.net/bqmPGJ

Publicado originalmente em 26/01/2014 01h00

Nação start-up

A coluna desta semana foi escrita de Israel, onde me encontro com um grupo de professores, pesquisadores e empreendedores, procurando entender o fenômeno do empreendedorismo neste país, também conhecido como "start-up nation" em função de milhares de empresas iniciantes de tecnologia que o país produziu nos últimos anos.

Ficou clara para nós a importância de uma política pública integrada em prol do empreendedorismo. A base do espírito empreendedor é construída ainda no Exército, obrigatório para a grande maioria dos israelenses ""três anos para homens e dois anos para mulheres.

Nas Forças Armadas, os jovens são expostos a uma série de desafios e desenvolvem habilidades de liderança, tecnologia, trabalho em equipe e tolerância ao risco.

Outra iniciativa interessante é o apoio do governo a incubadoras privadas, em que empresas incubadas recebem US$ 300 mil por ano para desenvolver seus projetos, sendo que 85% do valor é bancado pelo próprio governo.

Mas nada me chamou mais atenção quanto as políticas desenvolvidas para receber e integrar ao sistema produtivo os quase 1 milhão de russos vindos da extinta União Soviética, muitos dos quais cientistas com excelente formação e que tiveram uma contribuição decisiva para que Israel passasse a ser a start-up nation.

Nos anos 80 e 90, pesquisadores brasileiros se revoltavam contra o "brain drain" ou evasão de cérebros, pois muitos pesquisadores brasileiros que concluíam seus doutorados no exterior acabavam não retornando ao país por encontrarem melhores condições de trabalho fora. Hoje, temos condições de atrair mão de obra qualificada, em função da crise na Europa e nos Estados Unidos.

Por isso, causam surpresa os recentes protestos contra a entrada de médicos ou a dificuldade de engenheiros vindos do exterior reconhecerem seus diplomas no Brasil.

Faltam médicos e engenheiros no país e, em vez de desenvolvermos políticas para receber tais profissionais, que levam anos e anos para se formarem, colocamos barreiras inexplicáveis para evitar que trabalhem aqui.

tales andreassi

Tales Andreassi é mestre pela Universidade de Sussex e doutor em administração pela USP. É professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-SP, onde ensina empreendedorismo e inovação.

 

FONTE: http://zip.net/bjmNXx

Publicado originalmente em 12/01/2014 02h09

Empreender em 2014

Insatisfeito com sua vida profissional? Cansado de trabalhar em empresas que prometem mundos e fundos e cumprem muito pouco? Sem muitas perspectivas? Que tal empreender em 2014?

Empreender não é para qualquer um, é certo. Mas para saber se é ou não a sua praia, um bom começo é se inserir nas redes empreendedoras. A maioria das boas faculdades possuem centros que realizam várias atividades, em geral gratuitas, como palestras, competições de planos de negócios, discussão de casos etc.

Há também muitas instituições que apoiam e organizam atividades voltadas ao empreendedor - Fiesp, Fecomercio, Endeavor, incubadoras e espaços de "coworking" são alguns exemplos. Acompanhe a agenda de eventos dessas instituições e participe deles. Em poucos meses você vai conhecer quem é quem no mundo empreendedor.

Você também vai precisar de uma ideia. Uma dica é procurar uma falha no mercado: onde há filas, reclamações e pessoas insatisfeitas há uma possibilidade de negócio. Ou então se inspirar em um modelo que você viu fora do país e tentar trazer para cá -mas não se esqueça de incorporar algum elemento inovador. Você não conseguirá ir muito longe oferecendo um produto ou serviço que outros já oferecem.

Se você não tem certeza do que quer fazer, o melhor é ir com calma, preparando-se. Uma hora você vai ouvir aquele clic, largar tudo e mergulhar de cabeça naquela ideia que tem tudo para dar certo e transformar a sua vida. Ou não.

tales andreassi

Tales Andreassi é mestre pela Universidade de Sussex e doutor em administração pela USP. É professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-SP, onde ensina empreendedorismo e inovação.

 

FONTE: http://zip.net/bmmNZW

Publicado originalmente em  15/12/2013 03h22